segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

“AO MENOS O ENTERRO SIMBÓLICO NÓS QUEREMOS FAZER”, DIZEM FAMÍLIAS



Kátia Brasil
A Polícia Federal não pediu prorrogação das investigações à Justiça Federal, portanto, deve anunciar esta semana o fim das buscas aos três homens desaparecidos no interior da Terra Indígena Tenharim-Marmelos, no sul do Amazonas.

As famílias dos desaparecidos dizem que estão convencidas de que houve supostos crimes de sequestro e homicídio no caso e esperam que o delegado Alexandre Alves, responsável pelo inquérito, responsabilize os culpados. Os índios tenharim negam.

“Não foi toda a comunidade indígena que fez isso, mas sabemos que eles foram mortos por um grupo. Temos o direito de saber a verdade. São pessoas que morreram sem saber o por que? Ao menos o enterro simbólico nós queremos fazer”, afirmou a professora Irisneia Santos Azevedo de Souza, 36, esposa de Stef Pinheiro de Souza, que está desaparecido há 34 dias.

Stef de Souza, 43, o comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire, 30, e o agente da Eletrobrás Amazonas Energia, Aldeney Ribeiro Salvador, 40, desapareceram no dia 16 de dezembro próximo ao quilômetro 137 da BR 230, na Transamazônica, trecho que fica dentro da reserva.

Amigos, Stef e Luciano faziam a viagem de Humaitá para Apuí, semanalmente, a trabalho. O percurso começou com a travessia na balsa no rio Madeira. Neste dia, segundo Irisneia Souza, os amigos deram carona para Aldeney Salvador. “Eles não conheciam o Aldeney. Foram uns policiais que pediram a carona na balsa para o Aldeney”, disse.

Conforme apurou o portal Amazônia Real, a Polícia Federal ouviu 26 pessoas entre índios e não índios como defesa dos tenharim. Nas diligências realizadas dentro das aldeias, o delegado Alexandre Alves ouviu depoimentos de 15 índios tenharim, um jiahui, um munduruku e três pessoas não índias, sendo duas mulheres casadas com caciques. Mais cinco caciques tenharim foram ouvidos no quartel do Exército. Não houve indiciamentos. Na reserva, as buscas foram acompanhadas por militares da Força Nacional de Segurança e do Exército.

O centro da investigação foi na aldeia Taboca, que fica no quilômetro 137 da rodovia BR 230. Foi neste local que os agentes federais encontraram peças queimadas do veículo Gol e medicamentos, objetivos já reconhecidos pelas famílias.

Foi também num trecho da rodovia próxima a aldeia Taboca, em Manicoré (a 322 quilômetros de Manaus), que uma equipe de quatro policiais militares viu o carro Gol preto, em que os três homens viajavam, sendo empurrados por índios tenharim. Os policiais afirmaram, segundo a Polícia Militar, que não estranharam a manobra dos índios com o veículo porque os tenharim são proprietários de carro.

Outra informação divulgada, mas não confirmada pela Polícia Militar, é a de que os quatro policiais não pararam para averiguar a manobra dos índios com o carro Gol porque ficaram com medo, já que empurravam o veículo cerca de 40 tenharim e, alguns estavam armados com espingardas. “Os policiais não imaginavam que o carro era dos meninos. Também disseram que eram uns 30 e 40 índios, não dava para enfrentar. Os índios estavam de espingarda”, disse Irisneia de Souza

As famílias também acreditam que o motivo para o suposto sequestro e homicídios seja uma vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim, no dia 03 de dezembro. O cacique foi encontrado desacordado na Transamazônica. A Polícia Federal também investiga se foi um acidente de trânsito ou um homicídio. “Os índios alegam que alguém matou o cacique”, disse a professora.

Suposta vingança

A tese de vingança foi levantada pelas famílias e pela Polícia Federal depois que o coordenador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), Ivã Bocchini escreveu no dia 19 de dezembro no blog da coordenação na internet:

“O cacique estava desacordado com inúmeros hematomas e ferimentos na cabeça, no entanto a moto, o capacete e a bagagem estavam quase intactos, levantando suspeitas sobre a verdadeira causa da morte, inicialmente apontada como um acidente de trânsito (…). Ivan era como um chefe de Estado. As autoridades competentes devem ser capazes, agora, de dar uma resposta a altura da importância que o cacique tinha para os Tenharim. A FUNAI irá cobrar a polícia para que haja investigação e seja apontada a verdadeira causa da morte”, disse Bocchini no texto. O coordenador foi exonerado do cargo de coordenador no dia 10 de janeiro.

Para completar a tese de vingança das famílias, o site de notícias acriticadehumaitá.com.br noticiou que um pajé tenharim sonhou que o responsável pelo atropelamento do cacique Ivan Tenharim estava num carro preto.

Em nota enviada ao portal Amazônia Real, o Departamento da Polícia Federal, em Brasília, diz que as investigações continuam sob segredo de justiça. “Não são passadas informações sob investigações em andamento, principalmente àqueles sob segredo determinado pela Justiça. Os trabalhos continuam até que se traduzam por um resultado definitivo para se divulgado à imprensa”, diz a nota enviada na sexta-feira (17).

Segundo a Polícia Federal de Rondônia, nesta segunda-feira (20) segue para a cidade de Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), o superintendente substituto da PF em Porto Velho, delegado Arcelino Damasceno. Ele se encontrará com as famílias e deve se pronunciar até quarta-feira sobre as investigações.

O advogado dos índios tenharim, Ricardo Tavares Albuquerque, disse que na etnia não existe mais pajé. “Há uma ignorância muito grande sobre a cultura tenharim. Ao longo dos anos os tenharim perderam os pajés pela doutrina das religiões católica e evangélica. Não temos o que falar sobre isso”, disse.

Sobre os desaparecimentos dos três rapazes na terra indígena, o advogado Ricardo Albuquerque disse que os índios tenharim continuam negando o suposto crime. “Esta linha de inocência dos tenharim será mantida sempre. É preciso muito cuidado para não difamar e criminalizar a etnia tenharim”, afirmou.

Fonte: amazoniareal.com.br

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